terça-feira, 5 de novembro de 2013

Dia 04 - 04 de setembro

Descrição das Atividades: Dia 4 (04 de setembro)


            As atividades do quarto dia em Brasília têm início com a visita à Câmara dos Deputados. No entanto, e em decorrência de manifestação relativa à aprovação do PL 4330[1], não nos foi possível visitar, como programado inicialmente, o Congresso Nacional.
            Dessa forma, fomos conduzidos até o Centro de Formação, Treinamento e Aperfeiçoamento – CEFOR[2] para apresentação, realizada por Aldo Moreno, da Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados[3]
            A Constituição Federal de 1988, através de seu Artigo 61, parágrafo 2 prevê a possibilidade de apresentação de projetos de Lei a partir de iniciativa popular. No entanto, há algumas exigências para a aceitação dos projetos, como a adesão mínima de 1% do eleitorado nacional. Reconhecendo a complexidade do mecanismo constitucional, no ano de 2011 foi criada a Comissão Legislativa de Participação, constituindo-se como “[...] um fórum por meio do qual a sociedade civil organizada poderá intervir diretamente no sistema de produção de normas e das leis, apresentando sugestões para a elaboração de novas normas ou para o aperfeiçoamento da legislação já existente” (O menor caminho entre os interesses da população e a Câmara dos Deputados, 7ª Edição, p.13)[4].
            De acordo com a descrição, a CLP analisa as propostas enviadas por grupos da sociedade civil organizada. Sendo assim, esse mecanismo não pode ser acionado por indivíduos, mas somente por organizações, entre elas: entidades da sociedade civil, sindicatos, organizações de classe, organizações não-governamentais, entre outras.
            A CLP conta com 18 membros titulares e um igual número de suplente, sendo presidida atualmente pelo Deputado Lincoln Portela (PR/MG).
            A tramitação de um PL encaminhado à Comissão de Legislação Participativa obedece a seguinte ordem:
(Fonte: O menor caminho entre os interesses da população e a Câmara dos Deputados, 7ª Edicação – 2013).

            Outra interessante forma de participação civil é o Banco de Ideias[5], que permite a apresentação de propostas ao Poder Legislativo. Ao contrário do observado anteriormente, o cidadão, mesmo que não membro de uma entidade civil organizada, pode sugerir temas e ideias que ficarão disponíveis tanto para parlamentares quanto para consulta pública de toda a sociedade.
            Como resultados da atuação da CLP, atualmente encontram-se em tramitação na Comissão 130 proposições, e 42 proposições tramitam no plenário.
            Após a palestra na CLP, nos dirigimos ao Restaurante da Câmara dos Deputados para o almoço.
            No período da tarde, fomos recebidos na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado. A sessão foi realizada pela Presidenta Senadora Ana Rita Esgario (PT/ES). Particularmente, essa era a atividade mais esperada por mim em todos os dias em que estivemos em Brasília. Obviamente, e como a maioria dos alunos presentes, gostaria de ter visitado também a mesma Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, presidida pelo (pastor) Marco Feliciano (PSC/SP)[6], especialmente pela visibilidade midiática que esta tem recebido nos últimos meses, gerando revolta e inconformismo por parte de muitos cidadãos, incluindo a mim. No entanto, a visita ao Senado e a participação na sessão acima descrita foi absolutamente proveitosa. Para além de todos os ensinamentos e informações apreendidas, foi incrível poder observar o trabalho de uma agente pública séria e comprometida como (aparenta ser) a Senadora Ana Rita Esgario. Através de suas atividades, foram feitas investigações, bem como propostas de lei e intervenção sobre a temática da escravidão e do tráfico de seres humanos. E eu, como pesquisadora (e fascinada) pelo tema, não pude deixar de sentir uma alegria em conhecer as pessoas que lutam para que o país apague esta que é senão a maior, uma das maiores chagas do Brasil.
            A Senadora Ana Rita apresentou, entre outros assuntos, a composição e as competências da comissão, bem como os mecanismos para a participação por parte da população, entre eles a denúncia.
            Seguimos para a Escola Superior de Administração Fazendária para a realização do “III Seminário USP-ESAF – A Democracia no Processo Tributário. Reflexões a respeito da Educação Fiscal - Democracia e Tributação”. O professor da UnB responsável pela apresentação discutiu conceitos como tributação (taxas, impostos e contribuição de melhoria), o papel da tributação no Estado, a necessidade da existência do Estado, entre outros.
Ressaltou-se o fato de que a tributação atua (ou deve atuar) como um mecanismo de redistribuição de renda. Haja vista a não regulação do imposto sobre grandes fortunas, por exemplo, não se pode dizer que este preceito tenha sido aplicado no sistema tributário brasileiro.

Descrição das Atividades: Dia 5 (05 de setembro)


            O quinto dia em Brasília teve início com a visita ao Banco Central[7] do Brasil, com a participação de João Evangelista de Sousa Filho, Chefe da Área de Educação Financeira da instituição, Elvira Cruvinel Ferreira Ventura e Rodrigo Ferreira Marques Lobo, servidores do Departamento de Educação Financeira do BCB.
            Em linhas gerais, a atividade foi dividida em duas grandes partes: a primeira, uma apresentação institucional da autarquia e a segunda, um seminário sobre educação financeira e finanças pessoais.
            Entre todo o conteúdo ministrado, destaco o papel da educação financeira na vida da população brasileira. Em virtude do aumento do acesso ao crédito, muitos cidadãos passam a adquirir empréstimos com instituições financeiras sem conhecer propriamente os benefícios e malefícios de tal prática. A abertura de crédito deve, obrigatoriamente, ser acompanhada de orientações sobre sua melhor utilização. Sendo assim, o BCB tem desenvolvido atividades sobre educação financeira e finanças pessoais através do Comitê Nacional de Educação Financeira[8].
            Após o almoço, seguimos para o diálogo com os representantes da Secretaria Nacional de Articulação Social da Secretaria-Geral da Presidência da República, Marcelo Pires Mendonça, Vera Lucia Lourenço Barrito, Fernando Mattos e Daniel Velino, realizado no Anexo I do Palácio do Planalto.
            A Secretaria Nacional de Articulação Socia[9]l, criada em 2012 através do Decreto Nº 7.688[10] tem como competências:
“Art. 14.  À Secretaria Nacional de Articulação Social compete:
I - coordenar e articular as relações políticas do Governo com os diferentes segmentos da sociedade civil;
II - propor e apoiar novos instrumentos de participação social;
III - definir e desenvolver metodologia para coleta de dados com a finalidade de subsidiar o acompanhamento das ações do Governo em seu relacionamento com a sociedade civil;
IV - cooperar com os movimentos sociais na articulação das agendas e ações que fomentem o diálogo, a participação social e a educação popular;
V - articular, fomentar e apoiar processos educativo-formativos, em conjunto com os movimentos sociais, no âmbito das políticas públicas do Governo federal; e
VI - exercer outras atribuições que lhe forem designadas pelo Ministro de Estado ou Secretário-Executivo”.
A SNAS trabalha com a participação popular nacional, buscando estabelecer uma ponte entre a presidência e os movimentos sociais. Adicionalmente, esta atua como promotora da educação popular, através de iniciativas como a Rede de Educação Cidadã. A Secretaria conta com três departamentos principais: Departamento de Diálogos Sociais (DDS), Departamento de Participação Social (DPS) e Departamento de Educação Popular e Mobilização Cidadã (DEPMC). A seguir, um esquema contendo as principais competências de cada departamento da SNAS:
(Fonte: Elaboração da autora).
            Ao fim do quinto dia, seguimos para o Ministério da Justiça[11] para o seminário ministrado por Paulo Abrão, Secretário do Ministério da Justiça, Ricardo de Andrade Saad, Diretor Departamento de Recuperação de ativos e Cooperação jurídica Internacional e Fernanda Alves dos Anjos, Diretora do Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação.
            Em linhas gerais, o conteúdo da apresentação dos representantes do Ministério da Justiça versou sobre crimes transnacionais. Saad abordou a temática da cooperação jurídica internacional, destacando o papel ENCCLA – Estratégica Nacional de Combate a Corrupção e à Lavagem de dinheiro[12]. A ENCCLA foi criada em 2003 com o objetivo de combater de forma sistêmica a lavagem de dinheiro no país. Ela conta com a articulação de diversos órgãos da administração pública, os três poderes e da sociedade civil. Atualmente, cerca de 60 orgãos fazem parte da ENCCLA, entre eles o TCU, CGU, BACEN, FEBRABAN, e outros. A cooperação entre a ENCCLA e os diferentes órgãos – nacionais e internacionais - pode ser  definida como Cooperação Direta, Cooperação policial, Cooperação dos Ministérios Públicos, Cooperação dos órgãos de Inteligência, entre outros.
            A apresentação de Fernanda dos Anjos abordou aspectos do trabalho do Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação, que é responsável, entre outros, pelos critérios de classificação indicativa da programação de TV aberta, filmes, jogos, etc. No entanto, o conteúdo mais interessante da palestra foi sobre as iniciativas do Ministério no tocante ao combate e enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. O DeJus é responsável pelo alinhamento das diversas iniciativas do Plano Nacional de Enfretamento ao Tráfico de Pessoas no plano federal, bem como a produção de relatórios e pesquisas sobre a temática. Neste quesito, o Departamento publicou o relatório “Diagnóstico sobre Tráfico de Pessoas nas áreas de fronteiras no Brasil”, no qual são mapeadas as principais modalidades do crime em 11 estados brasileiros no período de 2005 a 2011.
            O Tráfico de Pessoas é definido como “o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou ao uso da força ou outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração” (DeJus,2013).
           



[1] PL 4330. Dispõe sobre o contrato de prestação de serviço a terceiros e as relações de trabalho dele decorrentes. http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=267841
[4] O menor caminho entre os interesses da população e a Câmara dos Deputados: http://bd.camara.leg.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/3629/menor_caminho_7ed.pdf?sequence=21
[8] Comitê Nacional de Educação Financeira: http://www.bcb.gov.br/?BCEDFIN

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